O Caminho para a Agricultura 4.0: Ex-Presidente da EBIC Discorre Sobre o Estado dos Bioestimulantes

Nota do editor: Esta história apareceu pela primeira vez na revista impressa de janeiro/fevereiro da AgriBusiness Global. Agora também distribuímos a revista digitalmente para maior circulação e conveniência. Visualize a edição digital aqui.

Agronegócio Global entrevistou recentemente Giuseppe Natale sobre o estado atual dos bioestimulantes. Estas são as palavras do ex-presidente do Conselho Europeu da Indústria de Bioestimulantes (EBIC):

Giuseppe-Natale-Valagro

Giuseppe Natale é o ex-presidente do Conselho Europeu da Indústria de Bioestimulantes (EBIC).

Qual é a perspectiva para o mercado de bioestimulantes em 2019?

A previsão prevê crescimento de mercado em 2019, com uma porcentagem superior a 10%. O valor de mercado deve atingir mais de US$ $2,2 bilhões.

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As razões para esse crescimento são claras: não se trata mais apenas de alimentar 10 bilhões de pessoas, mas de criar valor para todos os membros da cadeia de valor agrícola. Esse é o valor inerente à adoção de bioestimulantes: sustentabilidade, mas também produtividade e, portanto, maior lucratividade. Olhando para as características específicas do mercado, os principais impulsionadores do crescimento podem ser resumidos da seguinte forma: orientação para o uso de produtos eficazes que sejam seguros para o meio ambiente e para o usuário, que possam prevenir e evitar a perda excessiva da fertilidade do solo; o aumento do uso de bioestimulantes, mesmo fora dos países "pioneiros" neste segmento; pesquisa por empresas em novos produtos que atendam a necessidades agronômicas específicas; e o aumento do uso desses produtos em culturas em linha por usuários finais. A grande característica do mercado de bioestimulantes continua sendo seu dinamismo, uma característica que leva a um aumento na competição, com novas empresas constantemente entrando na arena competitiva (de acordo com nossas estimativas, cerca de 15% de empresas no setor começaram nos últimos oito anos). Esse cenário abre cada vez mais caminho para fusões e aquisições lideradas por grandes players do mercado.

Quais são os desafios que ainda precisam ser superados antes que haja uma aceitação mais ampla dos bioestimulantes?

Aumentar a credibilidade da indústria de bioestimulantes será a verdadeira pedra angular. Para atingir esse objetivo, por um lado, o investimento em pesquisa científica é essencial. Hoje estamos testemunhando os esforços da comunidade científica e acadêmica internacional para entender e disseminar os mecanismos que regulam o funcionamento e a eficácia dos bioestimulantes, a fim de trazer ao mercado evidências cada vez mais significativas e confiáveis para os benefícios dessa categoria inovadora de produtos. A validade científica é a pré-condição para que a oferta e a demanda se alimentem, fazendo o mercado prosperar.

Por outro lado, a regulamentação para o setor se torna igualmente crítica. A atual falta de regulamentação cria fortes barreiras ao desenvolvimento do mercado porque não há uma resposta unânime sobre o que os bioestimulantes vegetais podem realmente fazer em sua segurança e, finalmente, em sua identidade com relação a outras categorias de produtos agrícolas. No entanto, em comparação com o passado, a estrutura regulatória está evoluindo positivamente. Na Europa, a nova regulamentação sobre fertilizantes está passando pela fase final do trílogo do texto. Esta regulamentação contém uma nova categoria de bioestimulantes vegetais (com base em substâncias e em microrganismos) e, além disso, a regulamentação de proteção vegetal foi revisada para estabelecer uma fronteira mais clara entre os novos bioestimulantes vegetais e os produtos de proteção vegetal. Nos Estados Unidos, a lei mais recente nesta área visa enquadrar os bioestimulantes vegetais como uma nova categoria de produto.

Quais são as tendências mais significativas em torno dos bioestimulantes?

O investimento em inovação é certamente uma das tendências mais significativas. Isso não significa apenas combinar bioestimulantes com produtos de nutrição tradicionais, mas também integrar essa oferta com serviços tecnológicos que podem garantir valor agregado aos agricultores. Para que os bioestimulantes sejam realmente eficazes, é necessário um suporte altamente profissional e especializado, que começa com a análise das necessidades específicas da cultura para encontrar métodos e doses ideais para o uso das soluções mais eficazes. É isso que garante que os agricultores possam aproveitar ao máximo sua produção. Mas hoje a análise das necessidades específicas de uma cultura, em vez de indicações sobre o momento ideal para o uso de nutrientes, apenas para citar alguns exemplos, pode se beneficiar do suporte dos sistemas avançados de tecnologia aplicada para o setor. Isso é o que muitas vezes é chamado de Agricultura 4.0, uma forma verdadeiramente sustentável de agricultura porque visa o uso eficiente e eficaz de insumos agrícolas graças à oportunidade de analisar e usar, de forma simples, rápida e, portanto, eficaz, grandes quantidades de dados para apoiar os produtores no processo de tomada de decisão.

A origem desses produtos mudou de alguma forma nos últimos anos que alterou a forma como eles são vistos?

Além das fontes mais “tradicionais” desses produtos representadas por algas marinhas e extratos vegetais, nos últimos anos houve um aumento observado em soluções baseadas em micróbios (bactérias, fungos, leveduras e seus metabólitos) e sua combinação com materiais bioestimulantes clássicos. Essa combinação de fontes clássicas e não clássicas impulsionou o conceito de bioestimulantes em direção ao desenvolvimento de complexos com propriedades novas ou emergentes, incluindo microrganismos semelhantes a vivos.

Além disso, dentro das fontes clássicas, nos últimos anos muita atenção tem sido dada à composição e processamento ideais de matéria-prima. De fato, bioestimulantes comerciais fabricados a partir de fontes similares são geralmente comercializados como produtos equivalentes, mas podem diferir consideravelmente em composição e, portanto, em eficiência.

Por fim, a tendência também é de diminuição de fontes animais para a formulação de novos produtos bioestimulantes, reforçando assim o conceito de sustentabilidade e segurança desses produtos.

Qual é o estado da P&D quando se trata de bioestimulantes?

De acordo com o Conselho Europeu da Indústria de Bioestimulantes, a faixa de investimento em atividades de P&D por empresas que atuam neste segmento de mercado é de 3% a 10% do faturamento anual total, uma porcentagem considerável se comparada ao montante de recursos investidos em fertilizantes minerais, igual a 0,05%.

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