Tendência e efêmera
O Brasil, sempre um peso pesado agrícola, está alcançando um nível de destaque hoje que deixa as empresas de proteção de cultivos com água na boca. À medida que os preços das commodities subiam, os agricultores brasileiros investiram em suas safras de forma significativa, criando um mercado de insumos que parece estar à beira de eclipsar os EUA e se tornar o maior do mundo — na verdade, na análise de Flavio Hirata em nosso Country Report começando na p. 8, ele conclui que as tendências no mercado mostram que o Brasil fará exatamente isso nas próximas temporadas.
Mas podemos confiar nas tendências para continuar? Lembre-se, não faz muito tempo que os fazendeiros do Brasil lutavam com dívidas crescentes, sem acesso ao crédito tão necessário. Na época, alguns desses problemas podem ter parecido endêmicos; os fazendeiros do país estavam enterrados em um buraco que não parecia ser uma simples questão de uma temporada ruim, mas algo que poderia se estender por um tempo.
No entanto, esses fazendeiros saíram. Agora, o crescimento no Brasil parece imparável. Parece que o ímpeto mudou para o país e que não há limite para sua expansão futura.
Se a sorte do país pode mudar tão rapidamente de um extremo ao outro, até que ponto os agronegócios podem confiar no mercado para continuar crescendo, em vez de arcar com os custos dos pagamentos perdidos enquanto os agricultores voltam às espirais de dívidas em que se encontravam há apenas alguns anos?
No centro da questão está a questão dos preços das commodities, que se tornaram fortes o suficiente para fazer com que muitos agricultores brasileiros se recuperassem e voltassem ao lucro.
Há opiniões variadas sobre se os preços podem ser mantidos em seus níveis atuais. Por um lado, o impacto dos biocombustíveis no mercado parece não ser a ilusão que muitos pensavam que se tornaria. É verdade, ainda não está definido; se os preços do petróleo caírem de seus níveis historicamente altos e os preços dos alimentos subirem, pode haver uma reação negativa do consumidor.
No entanto, a posição privilegiada dos biocombustíveis como uma alternativa limpa e verde aos combustíveis fósseis dá à indústria de biocombustíveis um apelo ambiental e, uma vez que ajudará os países a escapar do jugo dos produtores de petróleo, há questões políticas e de segurança que tornam os biocombustíveis muito mais atraentes. Esses fatores tornam difícil imaginar que o apoio governamental irá secar para a indústria de biocombustíveis.
Isso não é uma garantia de manter altos preços de grãos a longo prazo. A médio prazo, é seguro assumir que os biocombustíveis continuarão a fornecer demanda adicional por milho e cana-de-açúcar, e que isso também afetará os preços da soja. Enquanto esse for o caso, o Brasil deve continuar a ver um tremendo potencial de crescimento. Embora esse seja o cenário mais provável, não é o fim da história. Já, a pesquisa está bem encaminhada para examinar outros meios de energia limpa e outras fontes de biocombustíveis, como o etanol celulósico, que podem trazer uma nova onda de mudanças.
Mudanças na indústria de biocombustíveis podem ser assustadoras em que os altos preços das commodities têm contribuído muito para esconder os altos preços dos insumos. Os custos dos fertilizantes continuam subindo, e não inteiramente por causa do petróleo; o contribuinte mais significativo é a demanda. Combine esses custos com o aumento dos preços dos pesticidas, e os altos preços das safras se tornam mais uma necessidade do que um bônus. Se o etanol sofrer um revés ou perder terreno para outras alternativas, os preços das safras podem não ser mais capazes de suportar o alto custo de produção. Neste cenário apocalíptico, sim: é possível que uma dívida massiva possa ressurgir como a praga mais devastadora do produtor brasileiro.
O mais provável, porém, é que, se tais mudanças estivessem previstas, a agroindústria brasileira se adaptaria a elas.
O futuro nunca é perfeitamente claro. Mas, pelo menos nos próximos anos, o Brasil parece uma aposta bem segura.