Agricultura de precisão para melhorar a eficiência do uso de nutrientes no Brasil

Por Rodrigo Trevisan 

Como mencionei no meu último artigo, o Simpósio IPNI Brasil sobre Agricultura de Precisão foi realizado no início de outubro em Goiânia, Goiás, no centro-oeste do Brasil. Os participantes eram principalmente prestadores de serviços, consultores de safra, laboratórios de análise de solo, empresas de fertilizantes, empresas de máquinas agrícolas, pesquisadores e fazendeiros. As apresentações foram feitas por importantes pesquisadores de agricultura de precisão do Brasil, EUA e México, com foco nas melhores práticas de gestão de fertilizantes.

Vários conceitos-chave para a adoção da agricultura de precisão foram relembrados e discutidos. O tópico que gerou mais controvérsia foi a amostragem de solo em grade, principalmente devido às preocupações com a densidade mínima de pontos necessária para caracterizar eficientemente a variabilidade espacial de uma área. O padrão comumente adotado de um ponto para cada 3 a 5 hectares nem sempre é suficiente para isso. Esquemas de amostragem densa têm pouca aceitação devido aos custos mais altos. O uso de sensores remotos e proximais para a coleta de dados auxiliares densos ainda é marginalmente adotado. As principais alternativas discutidas foram o uso de zonas de manejo ou amostragem em células regulares, sem o uso de interpolação. Isso ocorre especialmente quando o número total de pontos é pequeno, menor que cerca de 60, devido a pequenas áreas ou baixa densidade de amostragem. Um dos fatores limitantes para a adoção de zonas de manejo no Brasil é a falta de mapas de produtividade de boa qualidade. Estima-se que essa importante fonte de dados esteja sendo coletada em menos de 1% da área de produção de grãos no Brasil.

Agricultura de precisão para melhorar a eficiência do uso de nutrientes no Brasil

Imagem da sessão de encerramento do Simpósio de Agricultura de Precisão do IPNI Brasil. O professor José Paulo Molin apresentou uma revisão histórica do desenvolvimento da agricultura de precisão no Brasil e tendências futuras.

Também foram discutidas as práticas de manejo para aproveitar a variabilidade. Foi consenso que há uma necessidade urgente de evolução do conhecimento agronômico para possibilitar recomendações mais completas e assertivas. Um exemplo de pesquisa que foi apresentado é o uso de culturas de cobertura plantadas em diferentes densidades em cada zona de manejo de acordo com o principal problema a ser superado. Entender a relação entre atributos do solo e do relevo, como capacidade de retenção de água e resposta da cultura aos fertilizantes, também se mostrou importante para gerar prescrições. Uma das ferramentas que pesquisadores e agricultores estão usando para avançar neste assunto é o uso de ensaios on-farm em cada zona de manejo. População de plantas e taxas de fertilizantes têm sido os assuntos mais comumente abordados por meio desta técnica. Este também será um dos tópicos discutidos no Seminário de Agricultura de Precisão, que será realizado em Piracicaba – SP em novembro.

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A importância de treinar e educar pessoas em agricultura de precisão também foi mencionada por muitos palestrantes. Após aproximadamente 20 anos de uso da agricultura de precisão no Brasil, menos de 5% dos cursos de graduação em Agronomia ou Engenharia Agrícola incorporaram a agricultura de precisão como disciplina em seu currículo acadêmico. Apesar da existência de muitos cursos de curta duração e até mesmo de pós-graduação, muitos alunos de graduação nem sequer têm a chance de serem formalmente apresentados a conceitos importantes da agricultura de precisão. Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP), criado no ano passado, deve somar esforços para promover a educação em agricultura de precisão e melhorar a qualificação de profissionais em áreas correlatas. Outra ação importante da AsBraAP é promover o Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão. O CONBAP 2018 foi lançado oficialmente durante o evento e acontecerá no ano que vem em Curitiba – Paraná, em outubro.

O Simpósio de Agricultura de Precisão do IPNI Brasil apresentou excelente qualidade técnica e um bom ambiente para aprendizado e networking profissional. Mais do que isso, reforçou a importância de gerar e disseminar bons conhecimentos. A agricultura de precisão é uma excelente ferramenta para melhorar a eficiência do uso de nutrientes e muitas pessoas estão se unindo para avançar com essa tecnologia no Brasil e no mundo.

 

Nota do Editor: Rodrigo Trevisan é Coordenador de Agricultura de Precisão da Terra Santa Agro (www.terrasantaagro.com), responsável pelo desenvolvimento de projetos relacionados à agricultura de precisão em mais de 180 mil hectares cultivados com soja, milho e algodão. 

Veja o artigo original aqui.

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