Biocombustível: Liderança Brasileira
Fontes alternativas de energia foram desenvolvidas como alternativas mais baratas e limpas aos combustíveis fósseis não renováveis que reduzem o aquecimento global e a dependência de nações ricas em petróleo. O Brasil se destaca com sua experiência de mais de três décadas em biocombustível, produzindo em grande parte álcool a partir da cana-de-açúcar e, em menor escala, produzindo biodiesel e desenvolvendo bioquerosene a partir de plantas oleosas para combustível de avião.
O Brasil cultiva cana-de-açúcar para açúcar desde sua colonização pelos portugueses no século XVI. No entanto, na primeira crise mundial do petróleo, quando o preço do barril de petróleo passou de US$ $2,91 em setembro de 1973 para US$ $12,45 em março de 1975, o país começou a promover pesquisas para o uso do álcool como combustível. Em 14 de novembro de 1975, foi criado o Programa Nacional do Álcool, que passou a ser conhecido como Pró-Álcool. Em 1979, foi lançado no mercado brasileiro o primeiro automóvel com motor a álcool 100%, o Fiat 147. Estudos indicam que o etanol é economicamente viável quando o barril de petróleo bruto custa acima de $36, muito menos que o preço atual de $58.
O Pró-Álcool atingiu seu auge no final da década de 1980, quando 90% de veículos brasileiros tinham motores a álcool. Depois de alguns altos e baixos, o programa quase foi extinto. De 1995 a 2000, a fabricação de motores para uso de álcool chegou perto de zero.
Hoje, com o preço do petróleo em aproximadamente $60/barril, a situação é bem diferente. O uso do etanol de cana-de-açúcar faz parte da rotina diária dos brasileiros. Estima-se que um milhão de pessoas estejam empregadas no cultivo da cana-de-açúcar (750.000 empregos diretos e 250.000 empregos indiretos) em mais de 50.000 agroindústrias e 350 unidades de fabricação de álcool/açúcar. A participação de mercado de automóveis movidos a álcool ou álcool-gasolina (conhecido como “sistema flex”) era de cerca de 52% em junho de 2005 e deve chegar a 80% até 2010. Para atender à demanda por etanol (incluindo exportações), o Brasil precisará produzir 100 bilhões de litros do combustível nos próximos 20 anos.
Ficar na frente
O Brasil é o maior produtor mundial de etanol para combustível, seguido pelos EUA, que usam milho como fonte de biomassa que fornece uma conversão energética muito menor do que a cana-de-açúcar. Os dois países produzem 70% do etanol mundial.
Outras fontes de etanol estão sendo estudadas em ritmo acelerado. É o caso da celulose, que tem muitas vantagens sobre o milho e a cana-de-açúcar, incluindo maior produção de biomassa, cultivo menos intensivo e uso de matérias-primas como resíduos orgânicos. Cientistas locais estimam que o etanol de celulose será possível até 2009, após o conhecimento completo da tecnologia de hidrólise ácida estar disponível.
Apoio à Agricultura Brasileira
Apesar da crise pela qual o agronegócio brasileiro passou nos últimos dois anos devido às frustrações de safra agravadas pelo câmbio desfavorável, a cana-de-açúcar manteve uma renda positiva para o setor devido a:
- O aumento dos preços globais do açúcar e da exportação de álcool para os EUA, Holanda e Japão, que atingiu cerca de 3 bilhões de litros na safra 2006/07 (apesar do imposto de importação muito elevado de US$ $0,54 por galão para o mercado americano).
- A adição de etanol 20% a 24% à gasolina, equivalente a 6 bilhões de litros/ano.
- Maior uso do etanol devido à popularidade da tecnologia flex fuel, acessível desde 2003 e hoje presente em mais de 2 milhões de veículos.
- Preços mais competitivos em comparação apenas à gasolina.
Em 2006, a exportação de açúcar representou o segundo maior valor na exportação de commodities agrícolas, atrás apenas da soja. Os produtores de soja que tinham conhecimento da cultura da cana e estavam localizados em áreas adequadas aumentaram a área plantada de cana em detrimento da soja. É o caso da Agromen, que reduziu sua área de soja de 25.000 hectares (Ha) para 19.000 Ha, e aumentou a lavoura de cana em 7.000 Ha para um total de 40.000 Ha de cana.
Respondendo à demanda
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar com uma área plantada de 6,2 milhões de Ha. O Estado de São Paulo é o principal produtor, com mais de 50% da área plantada do país.
Ainda assim, para responder à demanda global por etanol, o Brasil precisa construir pelo menos 100 novas usinas até 2010. Atualmente, a capacidade de produção do Brasil é de 17 bilhões de litros por ano, com 248 usinas operando no centro-sul e 88 no nordeste. Segundo levantamento oficial, nos próximos cinco anos, 89 usinas devem entrar em operação, com capacidade estimada de 6 bilhões de litros, e 40% dessa produção serão direcionados aos mercados globais.
A produção de cana-de-açúcar, que gira em torno de 425 milhões de toneladas, deve aumentar para 685 milhões de toneladas até a safra 2012/13. Como incentivo, o governo fornecerá amplo crédito com baixas taxas de juros.
Globalmente, se houver uma substituição de 10% de gasolina por etanol, a demanda será de 220 bilhões de litros. Para que isso aconteça, acredita-se que a tecnologia flex fuel seja fundamental. O Brasil poderia abocanhar 50% desse mercado, ou 110 bilhões de litros. Seriam necessários cerca de $10 bilhões em investimentos, e um aumento de 6 milhões de Ha para 30 milhões de Ha em área plantada, ou 10% da área agrícola total do Brasil. Em termos de mercado potencial para defensivos agrícolas, ele representa cerca de $1,8 bilhão de herbicidas e inseticidas, ou 50% do mercado total atual de defensivos agrícolas do Brasil.
Vantagens e Desafios
As perspectivas neste setor são muito otimistas, com várias grandes empresas se preparando para competir dentro dele. A Petrobras, empresa estatal brasileira que detém direitos exclusivos de distribuição de álcool, se associou à empresa japonesa Mitsui, que planeja construir de 30 a 40 usinas no país, com produção destinada à exportação. A empresa de investimentos da Inglaterra Energia Limpa Brasil, sob a Temple Capital Partners, é focada principalmente em álcool, e pretende investir em pelo menos quatro usinas. O grupo francês Louis Dreyfus adquiriu quatro usinas, e se tornou um dos principais produtores de açúcar e álcool.
Apesar de todas essas perspectivas favoráveis, ainda há desafios. É essencial criar estoques reguladores; estabilizar os preços de acordo com a safra; combater a comercialização ilegal, a sonegação fiscal e a adulteração de álcool nos pontos de venda; expandir o mercado global de biocombustíveis; transformar o etanol em uma commodity global; desenvolver parcerias regionais, principalmente na América Latina; estabelecer diretrizes governamentais com incentivos para a exportação de etanol e para tecnologia para construção e equipamentos de usinas, bem como para motores flex fuel; e reduzir ou eliminar a tributação de importação cobrada sobre produtos que entram no mercado dos EUA. Se todas essas questões forem abordadas (e muitas estão em andamento), a produção de etanol no Brasil pode atingir seu potencial máximo.