Brasil abundante
O Brasil se tornou a potência que todos estavam esperando. O agronegócio do país assumiu a liderança em vendas de pesticidas (nível de distribuidor), margens de vendas, reciclagem de contêineres e tecnologia avançada para várias culturas de importância global e em outros assuntos relacionados a questões agrícolas. Esses fatos atraem cada vez mais atenção para o Brasil, que atualmente tem 75,6 milhões de hectares de terras agrícolas e terras aráveis totais de 350 milhões de hectares. Isso o torna a maior fronteira agrícola mundial, maior do que a soma das áreas cultivadas dos EUA, Argentina e Ucrânia.
Atualmente, considerando a produção de cana-de-açúcar, cítricos e café, o Brasil possui as maiores áreas plantadas, a tecnologia mais avançada do mundo e a segunda maior área de agricultura orgânica, incluindo atividades extrativas, superada apenas pela Austrália. O Brasil também tem a terceira maior área cultivada para organismos geneticamente modificados (OGMs), com 15,8 milhões de hectares (Ha), superada apenas pelos EUA e Argentina. E, em um futuro próximo, espera-se que ultrapasse os EUA como um dos principais produtores de grãos. Além disso, o Brasil é o maior exportador de grãos de café, soja, suco de laranja, etanol, açúcar e carne.
As previsões mostram que, até 2020, a área cultivada ultrapassará 90 milhões de Ha devido ao aproveitamento de menos áreas pecuárias, que estão distribuídas em 210 milhões de Ha em todo o território brasileiro.
No último semestre de 2008, houve uma desaceleração nas vendas de fertilizantes e pesticidas, mas o volume de vendas e as importações cresceram 15% e 19%, respectivamente. Os resultados seriam muito melhores se não fosse pela crise econômica global que está impactando todos os países. Devido à depreciação da taxa de câmbio, os valores de importação de fertilizantes aumentaram 100%, apesar de uma redução de 13% no volume quando comparado a 2007.
Até meados de 2008, as vendas de defensivos agrícolas cresceram 30%, em comparação ao mesmo período do ano passado. No final de 2008, houve um aumento nas vendas (nível distribuidor) de 24%, totalizando $7,03 bilhões, destacando herbicidas (aumento de 32%) e soja, milho, feijão seco, arroz, cítricos e pastagens. Entre os distribuidores, os mais proeminentes são Syngenta, Bayer, BASF, Monsanto, e DuPont, que são líderes há mais de cinco anos. A Syngenta tem uma presença significativa com vendas reportadas de $1,34 bilhões.
O Brasil em resumo | ||
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Cortar | Área plantada em milhões de hectares |
Comentários |
Cítrico | 1 | maior área cultivada no mundo; exportador de suco nº 1 |
Café | 2.7 | maior área cultivada no mundo; representa 5% do PIB local |
Soja | 21.7 | representa 23,9% da área total plantada no mundo |
Algodão | 0.98 | adoção de alta tecnologia com poucos produtores |
Cana de açúcar | 4.5 | ajuda a produzir 6,9 bilhões de litros de etanol por ano |
Milho | 14.2 | usado para alimentação e ração animal |
Essas seis culturas representam mais de 80% de vendas de pesticidas nos últimos anos. A soja sozinha constitui cerca de 40% do total de vendas de pesticidas. A área cultivada com OGM no Brasil dessas três culturas é de 12% da área total plantada com OGM no mundo. |
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Nota sobre OGM: 14 soja (63,9% de soja plantada no Brasil) 1,4 milho (10,4% de milho plantado no Brasil) 0,4 algodão (19,7% de algodão plantado no Brasil) |
Distribuição local
Entre os 10 maiores distribuidores, há apenas uma empresa brasileira, Nortox, que tem vendas de $220 milhões, mantendo esse ranking por vários anos consecutivos. Novos players no Brasil, semelhantes a outros países como Alemanha e China, são tradicionalmente comerciantes solicitando registros sob suas próprias marcas. Isso ocorre porque somente a propriedade de registro permite margens mais lucrativas e fornece uma maneira de longo prazo para desenvolver negócios e distribuição versátil.
O aumento das vendas de herbicidas deveu-se principalmente ao crescimento imprevisível dos preços do glifosato. Ironicamente, sua queda após os Jogos Olímpicos trouxe grandes prejuízos às empresas que comercializam este produto, principalmente aquelas que estavam com seus estoques cheios (comprados a preços mais altos) quando os valores caíram. Embora seja uma commodity, até hoje há uma grande falta de homogeneidade nos preços praticados para o glifosato. Por ser um produto insubstituível e usado em quase todas as culturas importantes, ele é uma porta de entrada para o mercado, bem como um caminho para o fluxo de caixa. O governo brasileiro enfatizou fortemente a prioridade que seria dada à análise das submissões de registro de glifosato com o objetivo de desenvolver a concorrência. Além disso, a entrada de um novo player no mercado de pastagens, com excelente acesso a usuários finais e revendedores, permitiu uma boa sinergia com as vendas de herbicidas, que é um produto fundamental para pastagens. Poucas empresas deram atenção a este mercado até então devido às dificuldades de distribuição e acesso do usuário final.
Em outros segmentos, os inseticidas aumentaram 23%; os fungicidas cresceram 16%; e os acaricidas saltaram 5%.
Ao contrário do que acontece nos EUA e na Europa, os agricultores brasileiros não têm nenhum tipo de subsídio governamental. Além disso, durante os dois anos anteriores à crise global (aproximadamente o quarto trimestre de 2008), a taxa de câmbio foi depreciada, o que prejudicou os exportadores, mas ilustrou o ótimo desempenho e profissionalismo dos produtores brasileiros competindo nos mercados globais.
Números positivos, no entanto, não demonstram o outro lado desse mercado. Por conta do complexo processo de registro de defensivos agrícolas, não há mais do que cerca de 100 empresas registrantes no Brasil — muito poucas em comparação a outros países que têm tradição agrícola. Isso é diferente dos mercados de fertilizantes, onde pode haver mais de 500 participantes de legitimidade variada. O parque industrial para produção de defensivos agrícolas tem 70 sites que, mesmo sendo pequenos, oferecem capacidade para a produção de quase todos os produtos técnicos e formulados.
Incursões para o lucro
Mas há desvantagens: a tecnologia para produzir formulações de grânulos molháveis e os locais para formulação de glifosato são mal atendidos. O desenvolvimento do mercado de glifosato foi prejudicado por anos por uma taxa antidumping que fez o preço dos produtos chineses subir e impediu a concorrência. Agora que a taxa antidumping foi reduzida para 2,1%, o glifosato se tornou uma excelente oportunidade para aqueles que têm preços competitivos na origem.
A agricultura brasileira é bem desenvolvida em quase todos os territórios devido à sua imensidão e às condições climáticas extremamente favoráveis à agricultura. Para abastecer esse mercado, há mais de 500 revendedores e 1.600 cooperativas. Isso representa mais de 70% de vendas de defensivos agrícolas em um mercado de aproximadamente 5 milhões de potenciais usuários finais.
Por essas razões, e pelo fato de que a expansão da área agricultável em outros países é muito limitada (exceto Ucrânia), o Brasil é de longe o principal alvo dos grandes players do agronegócio. Novos coadjuvantes também estão de olho no Brasil, buscando um nicho nesse mercado altamente competitivo, muito restritivo e custoso (custoso devido às dificuldades de obtenção do registro de agrotóxicos).
As margens baixas de outros mercados de pesticidas e as declarações do governo brasileiro para acelerar a análise de submissões de registro de produtos equivalentes fizeram com que muitos novos participantes investissem substancialmente para compartilhar o mercado mais lucrativo do mundo. Muitos produtos equivalentes foram registrados e, com a propriedade do registro, esses novos participantes são desafiados pelo acesso ao mercado, condições de pagamento, fluxo de caixa, sistemas de distribuição e cadeia de suprimentos. As empresas que fazem negócios no Brasil precisarão de muita criatividade e experiência para ter sucesso devido ao sistema de distribuição diferenciado do Brasil em comparação a outros países. Por exemplo, os termos de pagamento são de 180 dias em média. Algumas empresas que subestimaram as peculiaridades de registro, distribuição e crédito e cobrança entre o Brasil e seus próprios países de origem quase faliram.
Olhando para a frente
Nos próximos anos, haverá novas transformações no perfil do agronegócio brasileiro. Ao olhar para a consolidação de empresas que possuem registros de produtos, surge um número significativo de players internacionais. São principalmente da China e da Índia, que têm diferentes sistemas de vendas e distribuição, condições de pagamento, aumentos de portfólio de produtos e fertilizantes e produtos biológicos adicionais. Também estão previstas oportunidades e parcerias com países do Mercosul e a duplicação de um registro para muitos distribuidores (chamados clones). As agências reguladoras estão trabalhando para identificar fabricantes internacionais, registrar culturas menores, implementar avaliação de risco, monitorar intensivamente a importação de produtos (origem, composição, impurezas) e combater o contrabando de forma mais eficiente.
O crescimento e os potenciais de lucro sustentável são inegáveis neste mercado. Culturas como soja, cana-de-açúcar, algodão e milho continuarão se expandindo, o que é um bom presságio para a proteção de culturas porque todas, exceto o milho, são culturas de alta tecnologia. Novos sistemas de distribuição reduzirão os preços para os usuários finais sem reduzir as margens do registrante. Isso permitirá que os usuários finais melhorem ainda mais sua eficiência e capacidade produtiva. Os modelos agrícolas de alguns países desenvolvidos tendem a se render porque não são competitivos nem sustentáveis. Esses modelos são mantidos hoje devido a pesados subsídios governamentais.
A crise atual tem forçado algumas empresas globais a riscos financeiros em seus países de origem. No entanto, suas afiliadas brasileiras, não por acaso, mostram lucros espetaculares. Nenhum outro país no mundo tem esse potencial de produtividade agrícola e uso de tecnologia desenvolvida do que o Brasil, que tem sólidas oportunidades de negócios para fertilizantes, pesticidas, produtos biológicos, máquinas, sistemas de irrigação e silos.