A indústria de proteção de cultivos do Quênia teme "consequências terríveis" do novo imposto sobre pesticidas

A indústria de produtos agroquímicos no Quênia está indignada com a decisão do governo de impor um imposto sobre valor agregado (IVA) de 16% sobre produtos de proteção de cultivos.

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Eric Bureau, Diretor Geral da Bayer e Chefe de País na África Oriental

Em uma medida que surpreendeu o setor, o governo removeu os pesticidas da categoria de produtos isentos de IVA e retrocedeu a data efetiva para 1º de julho, um acontecimento que gerou fúria e oposição de formuladores e importadores.

Efetivamente, isso significa que o custo de varejo dos pesticidas deverá aumentar em pelo menos 16%, algo que a indústria avalia que tornará os pesticidas inacessíveis aos agricultores e desencadeará efeitos em espiral não apenas na produção de alimentos, mas também na sobrevivência das empresas.

“O impacto imediato é o declínio da demanda porque os agricultores podem não ter mais condições de comprar os insumos, e a produção de alimentos pode diminuir. Se os agricultores comprarem os produtos, o custo dos alimentos definitivamente aumentará. Esta é uma decisão muito ruim”, diz Eric Bureau, Diretor Geral da Bayer e Country Head East Africa.

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Ao impor o novo imposto, o governo cedeu à pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, a indústria prometeu lutar por sua revogação com base no fato de que ele tem o potencial de acabar com investimentos e expor o país à insegurança alimentar.

Ultimamente, o FMI vem pressionando o Quênia para empreender reformas fiscais que incluem a eliminação de isenções fiscais para aumentar a arrecadação de receitas internas, reduzir déficits orçamentários e desacelerar o acúmulo da dívida pública.

Embora os pesticidas, que durante anos foram isentos e tiveram alíquota zero, tenham se tornado produtos alvos, a indústria de agroquímicos está pressionando pela revogação da lei, que já entrou em vigor para proteger investimentos e garantir que os produtos permaneçam acessíveis aos agricultores.

Sob os auspícios da Associação de Agroquímicos do Quênia (AAK), a indústria se reuniu com membros do Parlamento e fez lobby pela revisão da Lei de Emenda Tributária de 2018, na qual os produtos de controle de pragas agrícolas foram excluídos entre os produtos que não atraem o IVA 16%.

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Evelyn Lusenaka, CEO da Associação de Agroquímicos do Quênia

“A nova medida tributária aumentará o custo da produção agrícola para os agricultores com poucos recursos porque o IVA é um imposto de repasse”, diz a CEO da AAK, Evelyn Lusenaka.

Ela acrescenta que, com fertilizantes, inseticidas e pesticidas respondendo por até 50% do custo de produção, o aumento dos preços reduzirá ainda mais as margens dos agricultores, tornando a agricultura pouco atraente.

A indústria agroquímica recebeu apoio da Associação de Fabricantes do Quênia (KAM), que alega que a implementação das novas medidas tributárias e o retrocesso da data de início para 1º de julho terão consequências terríveis nas operações das empresas.

“Retroceder os impostos para 1º de julho deixou a indústria confusa, já que as vendas de pesticidas estão em andamento desde 1º de julho, quando nenhum IVA foi cobrado”, diz a CEO da KAM, Phyllis Wakiaga.

Sem dúvida, a imposição de IVA sobre pesticidas foi um choque para as empresas de agroquímicos.

A medida foi contrária às expectativas do setor, considerando que os produtos para controle de pragas eram isentos de IVA até abril do ano passado, quando o status foi alterado para alíquota zero.

Apesar da indústria ter elogiado a decisão de aplicar taxa zero aos pesticidas, algo que tornou os produtos acessíveis e baratos aos agricultores, as comemorações duraram pouco.

“A tributação favorável de pesticidas antes da emenda contribuiu para aumentar a acessibilidade e o uso, garantindo assim uma melhor produção agrícola e reduzindo perdas associadas a pragas e doenças”, diz Lusenaka.

Dois passos para frente, um passo para trás

A introdução do IVA agora cria um ambiente totalmente diferente. Chegando em um momento em que o Quênia está lutando para transformar o setor agrícola e identificou a segurança alimentar como uma das principais prioridades nacionais, a mudança deixou um gosto amargo na indústria agchem nascente, que estava em uma trajetória de crescimento.

Estima-se que o consumo de pesticidas no Quênia seja de cerca de 14 milhões de quilos por ano, em comparação com um país como a África do Sul, que consome 35 milhões de quilos.

“Os ganhos alcançados até agora no setor agrícola provavelmente serão corroídos”, diz Lusenaka.

Ela acrescenta que o efeito adverso agravado seria sentido em termos de redução da produção agrícola, redução de renda e meios de subsistência para vários participantes da cadeia de valor, aumento da insegurança alimentar e redução do crescimento do setor agrícola, o que, em última análise, afetaria o produto interno bruto.

Pior ainda, o setor, que já sofre com problemas de falsificações e importações ilegais, pode testemunhar um aumento sem precedentes dessa ameaça, principalmente com produtos vindos de países vizinhos, como Tanzânia e Uganda, onde não são tributados com IVA.

No Quênia, um total de 18% de produtos de controle de pragas são falsificados, sendo a situação pior na Tanzânia e Uganda, onde até 40% e 45%, respectivamente, são falsificados.

“Este é outro risco para o Quênia porque mais produtos ilegais virão de países vizinhos por causa da diferença de preço e das altas taxas de falsificações”, diz Bureau.

Outra grande preocupação é que, com os pesticidas fora do alcance dos agricultores, pragas e doenças terão um dia de campo.
Isso é bastante alarmante, considerando que pragas e doenças já contribuem com 40% a 100% de perdas nas colheitas, uma situação que tende a piorar com o surgimento e o aumento de novas pragas, como a lagarta-do-cartucho e a tuta absoluta, entre outras.

Para as empresas, a incapacidade de empurrar produtos para o mercado pode desencadear uma tendência trágica de redução de escala, fechamento ou realocação para países com regimes fiscais favoráveis. Nem é preciso dizer que, embora o Quênia se orgulhe de suas 85 empresas agroquímicas, menos de um quarto controla cerca de 65% do mercado, com as outras oscilando no modo de sobrevivência.

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