Lucre com as novas demandas do Brasil

Besouro-do-milho-malhado

Se há algum mercado que vai mantê-lo alerta, é o Brasil. Extremamente rico em oportunidades agrícolas, seu espinho é um sistema regulatório desconcertante e custoso que pode efetivamente servir como um impedimento ao investimento estrangeiro. E ainda assim você não pode ignorá-lo. Aqui estão alguns fatores a serem considerados no mercado de proteção de cultivos nº 1 do mundo.

Micronutrientes foliares e produtos especiais, como bioestimulantes e elicitores, tiveram um crescimento exponencial na última década e devem crescer ainda mais rápido nos próximos anos, disse Flavio Matarazzo, gerente de produtos para agricultura do Grupo De Sangosse no Brasil.

O crescimento da produtividade no Brasil entre 1990-91 e 2010-11 disparou 129% para milho, 84% para soja, 93% para trigo e 108% para etanol de cana. As quatro maiores culturas cobrem 86% da área plantada do país. A adoção de GM tem sido rápida, agora em 83% para soja, 67% para milho e 52% para algodão, de acordo com o USDA.

O aumento da produtividade aponta para maiores necessidades de proteção de cultivos, disse Matarazzo em uma entrevista na conferência Simpósio Internacional sobre Adjuvantes para Agroquímicos 2013 em Foz do Iguaçu em abril. Está se tornando mais difícil matar ervas daninhas como buva e capim amargo, e o crescimento da resistência ao Bt e pragas secundárias como pulgões do milho agravam os desafios dos produtores.

Principais artigos
Mercado de produtos biológicos no Brasil: forte crescimento em meio a desafios e regulamentações em evolução

Há também uma pressão maior de doenças, com casos crescentes de ferrugem asiática, mofo branco e fungos transmitidos pelo solo, contribuindo para um aumento de 25% nas vendas de fungicidas em 2012. As larvas da soja e as larvas do algodão também estão se tornando problemas maiores, disse Matarazzo.

Os fungicidas, embora sejam uma categoria menor em volume de vendas, ultrapassaram facilmente o crescimento de inseticidas e herbicidas no Brasil nos últimos seis anos, que ganharam 21% e 11% respectivamente, de acordo com dados da AENDA, Associação Brasileira da Indústria de Defensivos Genéricos, e do SINDAG, Sindicato Brasileiro da Indústria de Agrotóxicos.

As vendas de produtos de nicho, incluindo reguladores de crescimento de plantas, maturadores, feromônios, produtos biológicos, moluscidas, desfolhantes e adjuvantes, apresentaram uma robusta taxa de crescimento anual composta de 25% desde 2006.

Atendendo à demanda por fungicidas do Brasil, a BASF disse no mês passado que financiaria uma planta de formulação para seu produto Xemium carboxamida, que está em seu estágio final de registro no Brasil, bem como expandiria outra planta para seu fungicida Boscalid. Uma nova planta para formular o herbicida Heat, a ser concluída até o segundo semestre de 2014, também está em andamento.

“O mercado brasileiro de defensivos agrícolas, assim como outros mercados ao redor do mundo, é altamente concentrado entre poucas empresas de P&D, e os produtos genéricos têm um papel de minimizar essa situação de oligopólio com produtos pós-patente com preços competitivos”, disse Tulio Teixeira de Oliveira, presidente-executivo da AENDA. Produtos químicos agrícolas internacionais.

Não presuma que os números já assustadoramente grandes da agricultura brasileira implicam uma desaceleração iminente. É exatamente o oposto, e as oportunidades de crescimento para pesticidas estão a caminho de aumentar por causa dos preços baixos introduzidos por produtos genéricos, enfatizou Oliveira.

Pressão de preços sobre genéricos? É pesada.

Valdemar Luís Fischer, líder da Nufarm na América Latina Sul, disse em entrevista que a empresa está vendo clientes maiores no mercado, com mais poder de compra: “Há uma pressão lógica nos preços, mas por outro lado também vimos um aumento em alguns custos no mercado internacional. Temos que repassar esse aumento de custo. Isso vai continuar, e não é nenhuma novidade. O número de concorrentes vem crescendo nos últimos anos.”

Os genéricos compõem cerca de 30% do mercado agchem do Brasil; 70% é de marca. Apesar da estrutura regulatória do Brasil, espera-se que produtos fora de patente façam mais progresso à medida que a velocidade da introdução de novas moléculas diminui.
Chris Moore, gerente de negócios internacionais da Loveland Products, disse que as dificuldades regulatórias do Brasil para produtos de proteção de cultivos são tão problemáticas que a Loveland decidiu criar um nicho em adjuvantes e nutrientes no país.

“Ninguém está interessado em gastar $400.000 por um pacote de dados completo para propiconazol, que é tão genérico quanto o dia é longo. Estamos nos concentrando em produtos de nutrientes especiais – por exemplo, vamos registrar um produto com inositol que é capaz de mobilizar melhor os nutrientes do solo e dentro da própria planta.”

Este ano, no Brasil, a Loveland espera vender perto de um milhão de litros de LI 700, seu adjuvante à base de lecitina de soja fabricado em Greeley, Colorado.

Uma coisa a lembrar, no entanto, é que esse é um território de vigilância por cima do ombro.

O LI 700 é derivado do óleo de soja, um produto natural, e está registrado no país desde 1999 e vendido desde 2004. No entanto, as demandas das autoridades brasileiras por mais metodologias, testes e certificados persistem, explicou Moore.

“É muito frustrante, muito caro e assustador. Você pode investir $150.000 ou $200.000 e é o ano cinco ou seis e você não terá nada, quem sabe? [Autoridades brasileiras] também estão reprimindo o máximo que podem”, disse Moore FCI.

A solução regulatória evasiva
Autoridades federais encarregadas de regular pesticidas no Brasil – MAPA, ANVISA e IBAMA – estão lutando contra problemas internos relacionados à estrutura de pessoal e crescentes demandas regulatórias por pesticidas, disse Fabio Domingues, diretor da Vigna Brasil. Adjuvantes, por sua vez, não estão sendo tratados como prioridade.

Um simples registro ou licença de exportação leva de dois a três ou até quatro anos para ser obtido. Para ajudar a remediar a situação, um grupo de empresas e pesquisadores representados pela AENDA estão trabalhando para criar procedimentos mais claros e novos critérios de legislação.

“Vamos ver se as autoridades aceitam as nossas sugestões e iniciam uma discussão aberta sobre o assunto”, disse Domingues FCI. “Tal situação não é boa para ninguém – nem para empresas, organizações de pesquisa contratadas ou autoridades – e está afetando nossos negócios em suporte regulatório, estratégico e de P&D. Buscamos procedimentos regulatórios claros e objetivos no Brasil.”

“Esperamos que esse sistema passe a ser controlado por apenas um órgão de registro, com um comando único”, acrescentou Oliveira, da AENDA.

Outra questão delicada são os adjuvantes piratas que inundam o mercado brasileiro. Normalmente, são surfactantes que ajudam a espalhar gotículas em uma folha. Se registrado corretamente, o processo levaria de três a cinco anos e pelo menos $200.000 e talvez mais. Mas, adicione um pouco de nitrogênio à mistura e pronto: você tem um "fertilizante foliar". Esse atalho significa obter registro e acesso ao mercado em apenas três a cinco meses.

Domingues garantiu que, embora muitas empresas estejam entrando na onda do mercado negro, por outro lado, “há muitas empresas internacionais importantes de adjuvantes que ainda estão vendo o mercado brasileiro como uma boa oportunidade e estão se preparando para registrar seus produtos de acordo com a legislação em vigor”.

Última risada no nordeste
A Agrium, empresa-mãe da Loveland, comprou no ano passado a Util Fertil, uma instalação de mistura de NPK no estado de São Paulo. Moore disse que em um futuro próximo, a Agrium pode se expandir para produtos químicos, adjuvantes e foliares, e possivelmente até adquirir lojas de varejo no país.

Enquanto isso, a ascensão dos mercados do nordeste do Brasil continua, apesar de ter sido ignorada por anos em favor de Shangri-La, Mato Grosso. Um exemplo de destaque é o acordo da Nufarm com a Agripec. Em 2007, a empresa australiana concluiu sua compra da Agripec, de 50 anos, que tem uma fábrica de formulação perto de Fortaleza e, na época, era a maior empresa de proteção de cultivos de propriedade local do Brasil. Apenas seis anos atrás, foi vista por alguns como uma compra tola.

Mas é a Nufarm que ri por último.

Fischer, da Nufarm, explicou: “A razão pela qual parecia estranho é que a maioria dos nossos concorrentes tem plantas no sudeste do Brasil, e a Agripec estava longe dos principais mercados. Mas desde então a agricultura realmente se moveu nessa direção. Agora, as áreas de crescimento mais rápido para soja, milho e algodão estão na Bahia, Maranhão e Piauí, e, claro, a área também tem uma indústria de exportação de frutas e vegetais muito forte.”

Como a Nufarm administrou os altos custos de levar os produtos ao mercado? Fischer disse que, antes de tudo, ela se concentrou em se tornar mais eficiente em logística, selecionando os parceiros certos e planejando.

“Estamos enviando caminhões cheios de produtos diretamente para o Sul para distribuidores e cooperativas. Estamos montando centros de distribuição nos principais centros agrícolas do Brasil – é assim que lidamos com os altos custos de transporte que temos lá. Começamos a exportar produtos como glifosato de formulação de alta carga, clorpirifós e tebuconazol de Fortaleza para a Argentina e Colômbia.”

A Nufarm, que deve encerrar 2013 com mais de 100 representantes de vendas no país, vem ganhando participação de mercado de forma constante para 4%, e planeja aumentar essa participação para 7% nos próximos cinco anos, disse Fischer.

Toda a América do Sul está se tornando mais importante para a empresa justamente por causa do crescimento de dois dígitos no mercado agroquímico na Argentina e no Brasil nos últimos três anos, acrescentou Fischer.

“Reorganizamos nossas operações em 2010, investimos mais no front end da organização, como adicionar mais representantes de vendas, representantes de tecnologia e pessoal de marketing. Selecionamos distribuidores que apoiam o posicionamento de nossos produtos, segmentamos o mercado e selecionamos as culturas nas quais queríamos competir. Também selecionamos produtos de terceiros para preencher lacunas em nosso portfólio para ter uma solução completa para essas culturas escolhidas. Então, conseguimos atingir taxas de crescimento à frente do mercado.”

Em contraste com os estados do sul do Paraná e Rio Grande do Sul, onde a cooperativa é rei, no estado do Mato Grosso, no centro-oeste, a distribuição é uma anomalia: metade do mercado é vendida diretamente ao usuário final. Um produtor pode ter 40.000 hectares com pouco tempo a perder com um distribuidor ou revendedor.

Oliveira destacou o possível cancelamento iminente de diversos produtos registrados no Brasil.

“Isso acontece porque esses produtos têm a mesma finalidade – a mesma cultura e o mesmo alvo biológico – mas têm classificação toxicológica e/ou de risco ambiental mais restritiva do que outros produtos”, disse ele.

Atualmente, corre na Justiça uma ação judicial envolvendo produtos à base de acetamiprido, e o Ministério Público recomenda que a ANVISA cancele a avaliação de classificação toxicológica de todos os produtos nessa condição.

Segundo a AENDA, há 2.298 pesticidas registrados no Brasil em março de 2013, dos quais 851 são produtos técnicos e 1.442 são produtos formulados.

Para mais informações sobre como entrar no mercado brasileiro, acesse a página 2.

Considerando entrar no Brasil? As 3 principais coisas para ficar de olho

Por Tulio Teixeira de Oliveira, CEO, AENDA, Associação Brasileira da Indústria de Agrotóxicos Genéricos

  1. O sistema de registro é muito complexo e demorado. Existem três órgãos reguladores que analisam o processo de forma independente e têm visões diferentes; são eles: o Ministério da Agricultura (MAPA), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA). Além da confusão de ter três processos, há a influência da opinião pública desinformada que considera os agrotóxicos como “os vilões do agronegócio”. Para explicar a situação, calculamos a média de processos de registro de produtos equivalentes analisados por ano, desde a implementação em 2003 até março de 2013. A média é de 41,5 processos por ano. Considerando que em março de 2013, havia 132 processos em avaliação e 372 processos na fila para serem avaliados (total de 504 processos); se mantido o ritmo atual, o último produto da fila seria finalmente registrado daqui a 12,1 anos. Dentre os demais tipos de processos para produtos acabados, em março havia 802 processos na fila; e alterações em pós-registro que somaram 616 no mesmo período.                                                                       
  2. Vendas de longo prazo. Como não há auxílio financeiro governamental que cubra todas as necessidades dos produtores a cada estação, o dinheiro usado para comprar pesticidas é normalmente financiado pelos fornecedores ou por meio de negociação de grãos, que entregam pesticidas e só são pagos após a colheita da safra. O prazo dessa transação é entre seis e nove meses.
  3. Sistema de distribuição congestionado. O Brasil é um país com enorme dimensão geográfica, e por isso, uma empresa precisa de muitos pontos de venda e centros de distribuição, que geralmente já têm acordos com as grandes empresas.

Ocultar imagem